As recentes enchentes no Rio Grande do Sul têm causado sérios impactos no setor agropecuário, afetando tanto a produção quanto a logística de escoamento dos produtos.

Este artigo compara os dados e análises de dois relatórios importantes para entender melhor esses impactos e sugere estratégias para gestão de crédito em resposta a essas adversidades.
Comparativo dos Relatórios
1. Magnitude das Chuvas e Área Atingida
Relatório do Sistema CNA: As chuvas entre abril e maio de 2024 foram extremamente intensas, com precipitações chegando ao equivalente a três meses de chuva em apenas 15 dias. Este excesso foi causado pela combinação do fenômeno El Niño e um Oceano Atlântico mais aquecido.
Radar Agro (Itaú BBA): As enchentes afetaram 332 dos 497 municípios do estado, com maior intensidade nas regiões central e sul. Rios atingiram níveis históricos, resultando no rompimento de barragens e causando sérios danos à infraestrutura.
2. Impactos na Produção Agrícola
Arroz:
Sistema CNA: 82% da colheita foi concluída antes das enchentes. Aproximadamente 41 mil hectares foram perdidos, resultando em uma redução de 341 mil toneladas na produção estimada, o que representa uma queda de 3,2% na oferta nacional .
Radar Agro: Confirma a perda significativa de áreas de arroz, destacando a concentração da produção no RS, responsável por 70% da produção nacional.
Soja:
Sistema CNA: Cerca de 5 milhões de toneladas ainda estavam no campo quando as enchentes ocorreram, com perdas estimadas entre 1 e 2,5 milhões de toneladas .
Radar Agro: Enfatiza que a colheita foi mais avançada na porção norte, menos afetada pelas enchentes.
Milho:
Sistema CNA: A colheita da primeira safra foi concluída em 86% das áreas, restando cerca de 870 mil toneladas sob risco de perdas .
Radar Agro: O impacto em nível nacional deve ser limitado devido à boa produção em outros estados.
3. Logística e Infraestrutura
Sistema CNA: Enfatiza a destruição de pontes, estradas e bloqueios nas principais rodovias, além do fechamento temporário do Aeroporto Internacional Salgado Filho e paralisia nos portos de Porto Alegre e Pelotas .
Radar Agro: Destaca as dificuldades logísticas para escoar produtos como arroz e frutas devido aos danos na infraestrutura.
4. Impactos no Setor de Proteínas Animais
Aves e Suínos:
Sistema CNA: O estado foi responsável por 11% da produção nacional de aves e 17% de suínos em 2023. Muitas plantas frigoríficas pararam temporariamente, afetando o fluxo de produção e exportação .
Bovinocultura de Corte e Leite:
Sistema CNA: Estima-se que 5% da produção nacional de carne bovina e 13% da produção de leite foram afetadas, com muitos produtores enfrentando dificuldades logísticas e perdas de animais .
Estratégias para Gestão de Crédito
Diante dos impactos das enchentes, é crucial que os produtores rurais e as instituições financeiras adotem estratégias eficazes para a gestão de crédito. Algumas medidas recomendadas incluem:
Reestruturação de Dívidas: Prolongar os prazos de pagamento e reduzir os juros para os produtores afetados, permitindo que eles possam se recuperar sem a pressão imediata das dívidas.
Linhas de Crédito Emergenciais: Disponibilizar linhas de crédito específicas para reparação de danos e recuperação das lavouras e infraestruturas destruídas.
Seguros Agrícolas: Incentivar a contratação de seguros agrícolas que possam cobrir parte das perdas causadas por desastres naturais.
Assistência Técnica e Gerencial: Oferecer suporte técnico para ajudar os produtores a implementar práticas agrícolas mais resilientes e eficientes, minimizando futuras perdas.
Fomento à Diversificação: Incentivar a diversificação das culturas e atividades, reduzindo a dependência de uma única safra e, portanto, a vulnerabilidade a eventos climáticos extremos.
As enchentes no Rio Grande do Sul evidenciam a necessidade de uma abordagem integrada que combine políticas públicas, apoio financeiro e inovação no campo para garantir a sustentabilidade do setor agropecuário frente às mudanças climáticas. A gestão eficaz de crédito é uma peça fundamental neste processo, permitindo que os produtores se recuperem e continuem contribuindo para a economia regional e nacional.
Maria Joelma – Colunista Society