Precisamos falar sobre Borderline

Precisamos falar sobre Borderline

Durante toda a nossa jornada de ser humano, estamos sujeitos à experimentar um turbilhão de sentimentos intensos, devastadores e inexplicáveis.

Todas as pessoas podem vivenciar emoções distintas em um curto período de tempo. Você pode sentir raiva e amor pela mesma pessoa, por exemplo. Ou também, pode sentir que é amado e logo depois provar da sensação de cair no esquecimento.

Vivendo entre tantos meios estressantes, é natural que nos ocorra, diferentes explosões sentimentais. Por vezes não suportamos as cargas de nossos corações e então, deixamos que transbordem as águas dos olhos. Ou somos acarretados por sensações que nos fazem perder o controle. Faz parte da natureza e do processo de evolução.

Devido à diversos fatores individuais, as tantas lutas pessoais e as nossas vivências, podemos acabar nos saturando com altas cargas emocionais.

Já que tudo que experienciamos possui uma parcela na construção de nossa personalidade. Cada alma que cruzamos diariamente pode estar em guerra no meio do caminho. Cada um carrega em seu íntimo, marcas por ter sentindo demais.
E por mais que seja possível verbalizar algumas sensações, existem outras que não podem ser traduzidas. É natural.

Nesse sentido, existem pessoas que vivem no limite de seus sentimentos. Para elas, o processo de sentir é mais intenso e profundo. E ainda, as sensações costumam ser persistentes e recorrentes.

Como, de um momento a outro, o êxtase da alegria passa a ser uma melancolia profunda. Seguidos de um pesado sentimento de culpa e um terrível medo do abandono.

Vamos conhecer a realidade das pessoas que convivem com o Transtorno de Personalidade Borderline. Compreender mais sobre a diversidade da mente humana. Vivenciar o universo do ápice das emoções, pode ser mais complexo do que se imagina.

 

Entenda o Transtorno

De acordo com o Manual MSD, os transtornos de personalidade geralmente são padrões generalizados e persistentes de perceber, reagir e se relacionar que causam sofrimento significativo ou comprometimento funcional. E variam significativamente em suas manifestações, mas acredita-se que todos sejam causados por uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

Nesse contexto, o Transtorno Borderline, também conhecido como limítrofe (limite) é caracterizado por um padrão generalizado de instabilidade e hipersensibilidade nos relacionamentos interpessoais, instabilidade na autoimagem, flutuações extremas de humor e impulsividade.

Disponível em:
https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-borderline-tpb

Como já dissemos, os Borderline são acometidos por sentimentos extremos. Para eles, sensações e pessoas são muito boas, ou muito ruins. É tudo ou nada, 8 ou 80.
Suas perspectivas de mundo e autoimagem, geralmente são distorcidas. Se não tratada da forma correta, a condição pode ser fatal.

A procura de alívio, prazer ou como válvula de escape das emoções negativas, a impulsividade pode acarretar uma série de riscos, como automutilação, sexo desprotegido, direção perigosa, abuso de álcool e drogas, distúrbios alimentares e suicídio.

Além disso, o Hospital Santa Mônica, listou outras características importantes sobre este transtorno. O conteúdo diz que, os pacientes com o diagnóstico, podem apresentar reações agressivas e problemas para controlar a raiva.

E ainda, quem tem essa síndrome nem sempre consegue confiar em pessoas próximas. Geralmente esse comportamento é acompanhado do medo em relação às verdadeiras intenções dos outros.

Disponível em:

Transtorno de Personalidade Borderline: sintomas e como identificá-los

 

A raiz do problema

A Vittude, uma grande referência em psicologia, diz que, normalmente o desenvolvimento deste transtorno pode estar enraizado em uma infância traumática. Como as relações pai-filho pobres, negligência, abuso sexual, trauma emocional, bullying físico, chantagem emocional, entre outros.

O artigo ainda reforça que, uma infância violenta constrói no indivíduo a necessidade de apresentarem comportamentos excessivamente defensivos, o que leva ao perpétuo medo do abandono.

Os medos podem correr para tais extremos que, em algumas situações acabam optando pelo isolamento voluntariamente para evitar que outros o façam, sendo assim, preferem se afastar das relações antes de serem abandonados.

Disponível em:

Transtorno de Personalidade Borderline: tudo o que você precisa saber sobre este transtorno

O relato de quem sente na alma

Joyce, tem 27 anos e nos conta que nasceu num ambiente familiar hostil. Cresceu vivenciando inúmeras agressões verbais e físicas entre os seus genitores.

Ela sempre foi muito estudiosa e afogava-se nos livros para esquecer as angústias de sua realidade. Todavia, as preocupações com tantos problemas, contribuiu para que ela repetisse um ano escolar.

Joyce recorda-se de um episódio na infância, em que seu pai atentou contra a vida da família, tentando explodir um botijão de gás.

Após a separação, seu pai não era mais presente. Foram 10 anos sem diálogo. Ela ainda teve de lidar com o medo da rejeição.

Quando adolescente, Joyce experimentou sua maior válvula de escape. Encontrou refúgio no álcool, mas aos 14 anos teve um coma alcoólico. Depois do ocorrido, quando iniciou a vida acadêmica aos 18, a bebida ainda era sua companhia. A jovem dividia o tempo entre os estudos, o trabalho e a boêmia.

Era uma rotina pesada, mas necessária para que Joyce não fosse atormentada pelo passado. A convivência com sua mãe, era conflituosa. Brigavam quase todos os dias. Constantemente Joyce era julgada e taxada de rebelde.

Naquela época, o tema saúde mental era muito escasso. Então, a rebeldia de um adolescente conseguia camuflar uma personalidade que mais tarde explicaria seus comportamentos.

Joyce conta que sempre foi extremamente ciumenta e rancorosa. Não aceitava dividir seus amigos com ninguém e brigava por eles, se fosse preciso.

“Quando eu tinha 23 anos, após um término de relacionamento, abusei do álcool ainda mais. Aos 26 fui admitida em uma empresa consideravelmente boa, grande e de possibilidade de crescimento profissional. Eu trabalhava com metas e isso me fez adoecer. Acentuou ainda mais a minha ansiedade, que posteriormente evoluiu para Ansiedade Generalizada. Precisei me afastar do trabalho através do INSS, e após seis meses em afastamento, quando fui retomar as funções, fui desligada da empresa.

Foi nessa época em que procurei tratamento. Passei por atendimento psicológico e psiquiátrico. A princípio, constatou-se Ansiedade e Depressão.
No decorrer das terapias fui diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline. Fiquei um pouco assustada, mas ao mesmo tempo aliviada.”

O preconceito é o pior dos transtornos

Joyce revela que depois do diagnóstico, muitas pessoas se afastaram e o preconceito era real até dentro de sua casa.
Ela termina dizendo que vivenciar tanta dor gerou uma tremenda indignação. Por isso, sentiu que precisava gritar para o mundo.

“Borderline não é uma sentença de morte em vida. E tampouco seja sinônimo de loucura. A estabilidade emocional do Border não é linear, assim como a vida de qualquer pessoa. O medo da rejeição, do abandono, as compulsões, as disfunções emocionais tem tratamento e isso não nos impede de termos uma vida digna de respeito. Meu diagnóstico não me define!”

Por meio da informação, compaixão e consciência é possível enfrentar. Com a ajuda da internet, Joyce alcança muitas almas que percorrem os abismos de seus sentimentos. Através do seu perfil no Instagram @vivendono.limite, é possível acompanhar a realidade e o lado humano de quem vive no limite.

Graças a tecnologia, hoje é possível ter acesso à quase qualquer tipo de informação sobre indeterminados assuntos. Se você se identificou com os sintomas, navegando na web você encontra vários testes de personalidade e mais conteúdos sobre o tema.

Contudo, o diagnóstico de qualquer transtorno deve sempre ser feito por um médico.

Para finalizar, é importante dizer que atrás de um transtorno sempre tem uma historia e um ser humano. Procurar entender sem julgar, pois sentir também é uma variável.

Imagem: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/98/BPD_1.png/800px-BPD_1.png

Por Ana Luz Borges, para Revista Society

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