Startup e agtech no universo do empreendedorismo

Entrevistado: Fernando Borges Fernandes, engenheiro agrônomo, especialista em gestão e tecnologia para o agro, atualmente é gerente de inovação do Sistema Faeg Senar e do CampoLab. Já atuou como consultor de gestão e informatização em fazendas, consultor da CNA e Sebrae Nacional, coordenador da central de inteligência da ATeG no Senar Central e em projetos de pesquisa na Embrapa Cerrados.

Como se define esse novo modelo de empreendedorismo, ou seja, uma “startup”?

O termo startup se refere simplesmente a algo que está começando. No caso em questão, é o nome dado a empresas que estão em fase inicial, mas com propostas de novos modelos de negócio, que sejam inovadores e escaláveis, ou seja, com possibilidade de crescer rápido, aumentando o número de clientes, sem a necessidade de aumentar a quantidade de pessoas no time da empresa. Por isso, na maioria das vezes, o negócio passa por tecnologia, envolvendo a criação de softwares, aplicativos ou dispositivos conectados à internet. Um bom exemplo é o Uber, que não inventou nada, afinal, automóveis, motoristas e pessoas precisando de transporte já existiam. O que fizeram foi criar uma plataforma que une esses 3 elos de forma prática e com preço “justo”.

Qual a diferença entre uma startup e uma empresa?

Ambas são empresas com CNPJ e tudo mais que exige a legislação, no entanto, os negócios que se enquadram como startups, muitas vezes requererem apoio como mentoria, espaço físico, aporte financeiro, suporte de gestão e marketing e até capacitação dos empreendedores. Por isso, as instituições interessadas na geração e distribuição de renda, melhoria de processos e até no fortalecimento de um determinado setor da economia, fomentam o que chamamos de ecossistema de inovação, que compreende políticas públicas de incentivo fiscal e financeiro, espaços físicos como os hubs, incubadoras e aceleradoras, disponibilizam cursos e profissionais para mentorias e, quando essas startups conseguem mostrar um protótipo ou produto mínimo viável (MVP) fazem a apresentação dessas propostas para investidores, que podem aportar recursos maiores por meio da aquisição de parte das empresas.

Como está hoje, em Goiás, o cenário das agtechs, as startups voltadas para o agronegócio?

Há um movimento interessante de fortalecimento do ecossistema goiano de inovação para o agro. Várias instituições têm se posicionado e o Sistema Faeg Senar tem sido reconhecido pelo seu papel de liderança, sempre trazendo importantes instituições como parceiras e correalizadoras dos programas e eventos nessa área, com destaque para o Sebrae, Embrapa, Governo Estadual, além de todo o meio acadêmico (UFG, UEG, IF Goiano, IFG e demais universidades). Isso tem incentivado novos empreendedores e, consecutivamente, o aparecimento de startups genuinamente goianas, além de atrair startups de outros estados e até de outros países. De acordo com o Radar Agtech 2021, realizado pela SP Ventures em parceria com a Embrapa, no Brasil foram cadastradas 1.574 agtechs. Os 3 estados com maior número dessas empresas são: São Paulo, com 757, Paraná com 151e Minas Gerais com 143. Goiás aparece em 8ª posição, com 30 startups para o agro. No entanto, nesse universo de inovação, se o produto ou serviço é inovador e apresenta valor para os seus clientes, logo se espalha por todo país e, muitas vezes, pelo mundo. Assim, o importante é termos um ambiente propício para receber as novidades em Goiás e veremos surgirem cada vez mais empresas de base tecnológica para ajudar o nosso setor a ser ainda mais pujante.

Quais projetos o Sistema FAEG, SENAR, IFAG e Sindicatos Rurais tem apoiado dentro do ambiente revolucionário das agtechs?

O posicionamento do Sistema que representa os produtores rurais de Goiás tem sido muito direcionado para a inovação e em gerar novos produtos e serviços para o campo e para a cidade, e isso se dá pela liderança e visão futurista do nosso presidente, o deputado federal José Mário Schreiner, e pela diligência e competência do superintendente do Senar, Dirceu Borges. Ao direcionarem o leme das instituições e darem liberdade de criação, no final de 2019 foi criado o CampoLab, um hub de inovação dentro do Edifício Faeg, uma estrutura física com espaço para a realização de reuniões, eventos e muito trabalho em favor da inovação. Ainda nesse sentido, em 2020 foram iniciados 2 importantes programas. No Programa AceleraCampo empreendedores com vontade de criar produtos e serviços para o agro são capacitados em diversas disciplinas e ao final de 4 meses apresentam um plano de negócio e, às vezes um protótipo de uma solução inovadora. No ConectaCampo, por sua vez, primeiramente é formada uma rede de produtores com perfil early adopter, ou seja, adotantes pioneiros de tecnologias inovadores. Após alguns meses de alinhamento com as tecnologias de vanguarda e o levantamento das “dores” (nome que se dá às demandas por inovação), são apresentados a algumas agtechs que possam propor soluções para esses problemas já levantados e outros que possam ainda ser elencados. Esses programas são resultados do Desafio AgroStartup, que foi o primeiro grande programa da Faeg e do Senar, que vem sendo realizado desde 2017.

Além disso, o Sistema Faeg atua em várias outras frentes, junto a parceiros, realizando ou patrocinando importantes eventos, como a Campus Party que teve suas últimas 3 edições, 2019, 2020 e 2021, com foco em agronegócios, onde participamos efetivamente.

Qual o papel das incubadoras e das aceleradoras para as startups? Temos esse tipo de instituição em Goiás?

De forma geral, as incubadoras fornecem apoio inicial para empreendedores, como local físico, capacitações, sala e ambientes compartilhados, ou seja, o ambiente para que as ideias sejam cultivadas e surja um produto ou serviço inovador que chame a atenção. A partir daí, as aceleradoras entram em cena, pois ajudam as startups a se colocarem no mercado, com a preparação do plano de negócios e apresentação para investidores. Normalmente as incubadoras estão em instituições governamentais ou educacionais, enquanto as aceleradoras são lideradas por outros empreendedores mais experientes.

Em Goiás temos incubadoras em todas as universidades públicas e algumas aceleradoras voltadas para o agro, como o Hub Conexa em Goiânia e a Orchestra, em Rio Verde. Além do CampoLab da Faeg, que, embora não se posicione exatamente como uma aceleradora, faz, em partes esse importante papel junto às startups em Goiás.

Temos exemplos de empresas de sucesso no agronegócio que já foram startups?

Temos sim. Embora ainda não tenhamos uma agtech brasileira que se tornou “unicórnio”, como são chamadas as empresas que são avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, vou citar dois casos relevantes: a Solinftec, fundada em Araçatuba, no interior de São Paulo, em 2007, por um grupo de engenheiros cubanos, se tornou uma das maiores empresas de agricultura digital e automação de lavouras do Brasil. Atualmente a startup monitora mais de 9 milhões de hectares no mundo, sendo 6,5 milhões de hectares de cana, que corresponde a cerca de 80% de toda a produção nacional. Agora, a Solinftec quer ganhar o mundo, começando pelos Estados Unidos; outro case interessante é o da Solubio, que produz bioinsumos e, com um modelo de negócio inovador, está construindo em Jataí-GO sua biofábrica, e deve ser a maior da américa latina. Ambas as startups citadas já possuem faturamento de fazer inveja e muitas empresas multinacionais.

Falar de tecnologia no agronegócio é falar de um universo cheio de oportunidades. Temos disponibilidade de mão de obra qualificada para utilizar e operacionalizar toda essa tecnologia disponível?

Esse é um dos maiores, senão o maior gargalo de toda essa conversa que envolve inovação tecnológica. Não só as máquinas e implementos estão exigindo cada vez mais capacitação e constantes atualizações dos seus operadores, mas os softwares e aplicativos estão tomando conta do campo, com a necessidade de coleta de dados e a geração de informações para a tomada de decisões. Por isso, o Senar tem se posicionado cada vez mais no sentido de trazer o que há de mais moderno e atualizado para seus treinamentos, que hoje podem ser acessados também pela modalidade EAD (ensino à distância) com qualidade e certificação reconhecida. Assim, para as pessoas que queiram se profissionalizar e buscar novas oportunidades, com melhores condições de trabalho e maiores salários, o agro é um setor muito promissor.

Atualmente o avanço tecnológico tem acontecido muito rapidamente em vários setores. No agronegócio esse avanço está acompanhando toda essa aceleração tecnológica?

A adoção de novas tecnologias no agro, embora seja um pouco mais lenta que em outros setores, tem sido notória e não perde para outros países mais desenvolvidos. No entanto, é perceptível o contraste que existe no campo, onde ainda vemos aquela figura do produtor sofrido e com as mãos calejadas. De forma geral, é importante dizer que o agro não está aquém dos demais setores da economia. Ouso dizer até que vem “rebocando” alguns setores, com demandas cada vez mais arrojadas e, atualmente, com condições de pagar pela inovação e por bens cada vez mais tecnológicos.

Para finalizar nossa entrevista, qual o recado você deixa para os empreendedores que estão começando o processo de desenvolvimento de uma startup?

A mensagem é de muito otimismo, pois existem muitas oportunidades, além de um ambiente de apoio e fomento a quem queira empreender no agro. Obviamente que “nem tudo são flores”, mas com dedicação, esforço e muita resiliência, além de uma boa ideia, é claro, há um promissor futuro aguardando àqueles que se dispuserem a inovar nesse que é um dos setores mais importantes para o Brasil e para o mundo. Enfim, contem com o CampoLab e com a nossa equipe, que está à disposição sempre.

Por: Vanda Rizzia Ribeiro Guimarães.

Foto: Arquivo pessoal

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