Crianças traumatizadas e adultos transtornados

Crianças traumatizadas e adultos transtornados

Do ponto de vista semântico, a palavra “trauma” significa “ferida”.

A terminologia em medicina admite vários significados, todos eles ligados a acontecimentos não previstos e indesejáveis que, de forma mais ou menos violenta, atingem indivíduos neles envolvidos, produzindo-lhes alguma forma de lesão ou dano. Independente de sua melhor definição, o fato é que o trauma é uma doença que representa um problema de saúde pública de grande magnitude e transcendência no Brasil, que tem provocado forte impacto na morbidade e na mortalidade da população.(Classificado pelo Comitê Brasileiro das Ligas do Trauma, CoBraLT.

Disponível em http://cobralt.com.br/o-que-e-trauma/

No percurso de nossa jornada como Ser Humano na terra, vários acontecimentos traumáticos podem ocorrer em nossas vidas. Uma porção desses acontecimentos surge na infância.

Diariamente as crianças são expostas à uma série de situações e flagelos que podem resultar em traumas irreversíveis. Em razão da toxicidade em suas vivências com adultos, essas crianças têm seus direitos violados, suas mentes torturadas e seus corpos invadidos.

Para que o indivíduo desfrute de uma boa saúde mental é necessário uma multiplicidade de fatores.

Compreendendo a Saúde Mental

Na competência da psicologia, saúde ou sanidade mental, vislumbra a capacidade de tomar decisões em relação à própria vida. A capacidade de se organizar interiormente e organizar o que está em volta. Envolve acessos à moradia digna, à educação de qualidade, à participação política, a escolhas de caminhos de vida.

Em termos de sociedade, a desigualdade social, a injustiça, a discriminação e a violência podem provocar sofrimentos psíquicos.

Disponível em http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/cartilhas/saude_mental/fr_saude.aspx

Cérebro favo de mel

As crianças estão numa fase muito importante para a formação da personalidade, caráter, intelecto.

Promover uma boa qualidade de vida para o seu crescimento é fundamental para sua estruturação social e psicológica.

A lista dos eventos que podem ocasionar um trauma é imensa. Nela estão os que são gerados por situações de perigo iminente, grave ameaça a vida, violência gratuita e sexual, desastres, catástrofes, e não para por aqui.

No entanto, os traumas mais impactantes são causados por pessoas próximas , pessoas de nosso convívio e laços afetivos.

Na página do Hospital Santa Mônica, é possível entender um pouco mais sobre a mente dos pequenos.

O conteúdo traz a seguinte analogia: “O cérebro de uma criança pode ser comparado a um favo de mel vazio que está prestes a ser preenchido. Isso significa que tudo aquilo que for presenciado e escutado nessa fase será absorvido e guardado.

Na infância não temos o discernimento para filtrar o que é bom ou ruim, e assim levamos na memória todos os acontecimentos, sem qualquer avaliação sobre aquilo.

Na psicologia, essas construções mentais são denominadas crenças negativas e limitantes, que se manifestarão somente na vida adulta e trarão prejuízos psicológicos. A ansiedade, o medo, a insegurança e até transtornos psicológicos são algumas consequências.

Com isso, o indivíduo que sofre com traumas costuma ter dificuldades para conviver em sociedade, se relacionar, apresentam baixa autoestima e agressividade.”

Disponível em: https://hospitalsantamonica.com.br/traumas-na-infancia-como-influenciam-na-saude-mental/

Como descobrir se tenho uma ferida de infância

A psicóloga Letícia Lopes Matara, alerta para os prejuízos de um trauma não tratado.

A profissional diz que crianças quando expostas a um trauma podem desenvolver o TEPT (transtorno de estresse pós-traumático). Porém, elas também podem desenvolver outros quadros psicopatológicos e outros sintomas, como por exemplo a depressão, comportamento suicida, isolamento social, entre outros.

“Você saberá que tem um trauma de infância se notar que revivescia o trauma nos sonhos ou nos pensamentos, evita situações que possam lembrar o evento traumático. Se perceber que está muito agitado e assustado, apresentar dificuldade pra dormir, irritabilidade, desinteresse pelo futuro”.

Quando questionada sobre a superação de um trauma, Letícia atenta novamente para a importância do tratamento.

“Primeiramente evitar o isolamento, porque o ato de se isolar, pode tornar as coisas ainda piores. Procurar ajuda psicológica pode ajudar a compreender e ressignificar essas experiências traumáticas”, conclui.

Cada caso é um caso

Juscelino Mendes, também psicólogo esclarece que nem toda criança que passa por um trauma, necessariamente irá desenvolver um transtorno. Assim como nem todo transtorno está relacionado a um trauma de infância.

É necessário compreender a vida do indivíduo como um todo.

Como por exemplo, a criança que foi abandonada por seus genitores. Pode ser que ela seja adotada por uma família afetuosa, que proporciona espaço, educação e todos os cuidados necessários para seu desenvolvimento saudável.

E mesmo que ela tenha o sentimento de rejeição, ela pode conseguir lidar, se entender e se encontrar no mundo.

Diferente da criança que foi enjeitada e cresceu nas ruas, no mundo ou no sistema. Além do sentimento de rejeição, essa criança ainda pode sofrer constantes frustrações, carregar um pesado sentimento de culpa e negligência.

Neste caso, superar o trauma pode ser ainda mais complexo.

Devido a precariedade, questões de classe social, falta de uma rede de apoio e acesso à uma promoção de saúde mental.

O psicólogo aclara que a maioria das pessoas podem ser acometidas pela amnésia infantil. E ainda, é normal que em nossa mente, ocorra um dos mecanismos de defesa chamado recalque, que é quando há supressão de partes da realidade.

Assim sendo, a pessoa submerge na negação inconsciente e no esquecimento. Logo, surge bloqueios de conflitos que causam sensações ruins.

O corpo fala

O corpo humano é capaz de esconder muitos segredos. Mas, uma hora ele acaba nos contando.

Os psicólogos consultados para a realização deste artigo também ressaltaram a importância do autoconhecimento.

Corpo e mente são partes de um mesmo organismo e estão totalmente interligados.

Desenvolver a consciência e perceber a verbalização corporal é crucial.
Não dá para tratar o que não se sabe. Escutar a si mesmo é o começo do entendimento.

Quando o corpo verbaliza acontece a somatização.

O medo é espelhado numa taquicardia. As preocupações latejam dores de cabeça. Os sentimentos ruins se revelam em distúrbios gastrointestinais.

O Transtorno de Somatização é a geração de sintomas físicos a partir de uma condição psiquiátrica ou psicológica.

Esse transtorno mental é caracterizado por queixas recorrentes, múltiplas e atuais, clinicamente significativas, sobre sintomas somáticos, embora não seja possível detectar nenhum transtorno orgânico.

O transtorno de somatização pode se associar com uma saúde debilitada, com dificuldades de funcionamento na vida cotidiana, com problemas de relacionamentos, com outros transtornos mentais (como ansiedade, depressão e transtornos de personalidade), com aumento do risco de suicídio e com problemas financeiros.

Disponível em: https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1336328/somatizacao+o+que+e+quais+sao+as+causas+tem+tratamento.htm#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20somatiza%C3%A7%C3%A3o%20%3F,do%20estresse%20e%20algumas%20emo%C3%A7%C3%B5es.

Como salvar uma vida

Fique atento aos sinais. Observe a si mesmo e observe as pessoas que estão ao seu lado.

Segundo o Hospital Santa Mônica, cada um tem seus sintomas característicos, mas existem alguns indicativos abrangentes que podem significar um possível transtorno.

Problemas de sono, estar sempre ansioso ou tenso, humor se altera com facilidade, tendência a se afastar das pessoas e esquecimento frequente são alguns dos sintomas gerais.

O Hospital Albert Einstein, publicou algumas reflexões importantes sobre o tema. Uma delas é o preconceito social que grande parte das pessoas são acometidas.

Como a saúde mental está no corpo e no meio, muitas vezes é concebida como uma fraqueza do sujeito, algo sobre o qual ele teria condições de atuar e não o faz. Por exemplo:

NOSSA, MAS AQUELE MENINO TEM TUDO, POR QUE ESTÁ DEPRIMIDO?

Troque a depressão por câncer e veja como fica esquisito:

NOSSA, MAS AQUELE MENINO TEM TUDO, POR QUE ESTÁ COM CÂNCER?

Disponível em: https://www.einstein.br/saudemental#:~:text=N%C3%A3o%20existe%2C%20por%C3%A9m%2C%20uma%20defini%C3%A7%C3%A3o,harmoniza%20suas%20ideias%20e%20emo%C3%A7%C3%B5es.

Você não está sozinho!

Se você carrega sentimentos ruins, possui algum tipo de bloqueio e não sabe a origem desses tormentos, considere a possibilidade de fazer terapia.

Caso você tenha se identificado com os sintomas listados acima, procure ajuda profissional.

Ainda há tempo para se viver em paz consigo mesmo e com o mundo à sua volta.

Falar é melhor

“Por alguma razão, alguém decidiu há muito tempo que nomear a dor é falta de educação, que esconder a dor ou esconder da dor faz mais sentido. Não faz. É uma mentira.Uma mentira que nos conforta e nos destrói.

Uma pesquisa mostrou que o adulto típico diz “Estou bem” quatorze vezes por semana. Mas menos de um em cada cinco deles estão falando a verdade. Nosso costume é fingir coragem. Mas às vezes é mais corajoso admitir que algo está errado. Porque fingir que está tudo bem eventualmente dá errado”.
Grey’s Anatomy

Por Ana Luz Borges, para Revista Society

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