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A grande valorização da arroba, acompanhada pelo considerável aumento do preço da reposição de animais e dos custos dos insumos agropecuários, tem tornado a atividade pecuária cada dia mais desafiadora. Nesse cenário de euforia e incertezas, é preciso ter muita cautela nas tomadas de decisão e a palavra-chave é “eficiência”. O custo da arroba produzida e a produtividade do sistema (@ ha-1), dependem da eficiência de utilização dos recursos para produção. Dentre esses recursos, o pasto representa a fonte mais barata de alimento e com maior potencial para aumentar a produtividade e reduzir os custos de produção, quando bem manejado. Nesse sentido, a intensificação e o manejo adequado de pastagens certamente são o melhor caminho para obter uma pecuária mais lucrativa.
Neste artigo será relatado um trabalho conduzido em área de um cooperado pelos pesquisadores do Instituto de Ciência e Tecnologia COMIGO – ITC, e pelo departamento técnico da filial de Santa Helena. O objetivo do trabalho foi avaliar o retorno financeiro da bovinocultura de corte do cooperado, quando se adotou a intensificação das pastagens em relação ao manejo extensivo.
Características do sistema de produção
A Fazenda Alvorada, localizada no município de Porteirão-GO, de propriedade dos cooperados Kaiko Santos e Maria Eugênia Cancella , conta com uma área de 210 hectares de pastagens, sendo que aproximadamente dois terços da área (146,5 ha) são pastos manejados de forma extensiva, formados por capim-humidícula nas áreas de “varjão” (áreas que encharcam nas águas) e “brachiarão” (capim-marandu) nas áreas que não encharcam. Os 63,5 ha restantes foram divididos em seis módulos de pastejo com capim-mombaça, manejados de forma intensiva com pastejo rotacionado. Buscando maior rotatividade da atividade, a fazenda especializou-se na recria de novilhas, dando preferência para a aquisição de novilhas meio-sangue (Aberdeen Angus x Nelore). Os animais foram suplementados diariamente, recebendo três gramas por kg de peso corporal do suplemento Cooperbeef Águas®, durante o período chuvoso, quando a oferta e qualidade de forragem são maiores, e três gramas por kg do Cooperbeef Secas®, durante o período seco, quando a oferta e qualidade do pasto são menores.
Para agregar valor à produção e facilitar o processo de gestão da fazenda, os proprietários implantaram na propriedade o sistema de rastreabilidade dos animais (Sisbov) e utilizam o software de gestão do rebanho Super-Pec da COMIGO.
Na área intensificada, os pastos foram adubados em dezembro de 2019 com 50 kg ha-1 de nitrogênio (ureia), e em março de 2020 com 50 kg ha-1 de nitrogênio (ureia) e 50 kg de potássio (cloreto de potássio). Em dois dos módulos de pastejo, que apresentavam menor crescimento, foi realizada uma adubação complementar com 80 kg ha-1 de P2O5 (superfosfato simples). Para assegurar maior eficiência de colheita do pasto, o capim-mombaça foi manejado com altura de entrada dos animais entre 70 e 80 cm e altura de resíduo entre 35 e 40 cm (para mais detalhes consultar NASCIMENTO et al., 2020).
Produtividade e lucratividade da fazenda
Durante o período analisado (dezembro de 2019 a agosto de 2020), a fazenda produziu um total de 4.601 arrobas. Desse montante, 44% (2.038 @) foram produzidas na área de pastos não intensificados, que representava 70% da área total de pastagens (146,5 ha). Por outro lado, 56% da produção total (2.563 @) foi obtida na área de pastos intensificados (Figura 1), que representava apenas 30% da área total de pastagens da propriedade. Os resultados mostram a importância da intensificação de pastagens para produzir mais em menores áreas. Sem a intensificação das pastagens, a fazenda precisaria aumentar a área em 57% para obter a mesma produção total de arrobas. Dessa forma, o processo de intensificação permitiu poupar 120 ha, que poderiam ser destinados a outras atividades.
A produtividade média da Fazenda Alvorada foi de 21,9 @ ha-1, sendo que, se for considerada apenas a área não intensificada, a produtividade cai 37%, reduzindo-se para apenas 13,9 @ ha-1. Nas áreas intensificadas a produtividade média foi de 40,4 @ ha-1 (Figura 2), representando um incremento de 190% em relação às áreas não intensificadas, ou seja, a intensificação das pastagens possibilitou produzir quase o triplo por hectare em relação às áreas não intensificadas.
O custo médio da arroba produzida na fazenda foi de R$ 126,24. Nas áreas não intensificadas esse custo foi de R$ 120,50 @-1 e nas áreas intensificadas, R$ 130,80 @-1 (Tabela 1). Mesmo com o maior custo de produção da arroba, a maior produtividade (@ ha-1) ocorrida nos pastos intensificados garantiu maior margem líquida em todos os cenários de preço da arroba considerados. Considerando os preços pagos pela arroba em dezembro de 2019, e agosto e novembro de 2020, o retorno líquido da área de pastos intensificados foi de 140 a 171% maior em relação ao retorno obtido nos pastos não intensificados (Tabela 01).
Tabela 1. Custo da arroba produzida (R$ @-1) e retorno líquido (R$ ha-1 / US$ ha-1) na fazenda em três cenários de preço da arroba na praça de Goiânia – GO.
Áreas | Custo de produção | Retorno líquido³ | |||||
12/12/2019* | 07/08/2020** | 19/11/2020*** | |||||
R$ @-1 | R$ ha-1 | US$ ha-1 | R$ ha-1 | US$ ha-1 | R$ ha-1 | US$ ha-1 | |
Fazenda Geral | 126,24 | 1.178,00 | 287,00 | 1.989,00 | 367,00 | 3.369,00 | 636,00 |
Pastos não Int.¹ | 120,50 | 828,00 | 202,00 | 1.342,00 | 248,00 | 2.219,00 | 419,00 |
Pastos Int.² | 130,80 | 1.986,00 | 484,00 | 3.478,00 | 642,00 | 6.022,00 | 1.136,00 |
¹Pastos não intensificados; ²Pastos Intensificados; ³Diferença entre o valor das arrobas produzidas e o custo para produção em três cenários de preço da arroba;
*Cotação do dia da @ em Goiânia R$ 180,00 e do dólar R$ 4,10 (Fonte: IFAG, 2020);
**Cotação do dia da @ em Goiânia R$ 217,00 e do dólar R$ 5,42 (Fonte: IFAG, 2020);
***Cotação do dia da @ em Goiânia R$ 280,00 e do dólar R$ 5,30 (Fonte: IFAG, 2020);
Considerando a cotação da arroba em novembro de 2020, o retorno líquido obtido na área de pastos intensificados foi 171% maior em relação ao restante da fazenda (R$ 6.022,00). O maior retorno observado é reflexo principalmente da elevada produtividade (@ ha-1) obtida na área durante o período (Figura 2). Essa elevada produtividade por área foi construída por meio da combinação de um criterioso manejo do pastejo, baseado nas alturas de entrada e saída dos animais nos piquetes, e ajustes na taxa de lotação para manter o equilíbrio entre a oferta de forragem e o desempenho animal. Além disso, o correto manejo da adubação, realizada sempre com base nas exigências da cultura e em momentos propícios ao melhor aproveitamento do pasto, foi fundamental para a obtenção da maior produção de arrobas na área intensificada.
Construindo uma pecuária mais eficiente
A intensificação de pastagens possibilita aumentar a produtividade e lucratividade dos sistemas pecuários, sem a necessidade de explorar áreas maiores. Nesse cenário, o manejo adequado do pastejo e da adubação, associado ao uso de ferramentas de gestão, ambos são essenciais para a obtenção de maior produção e maior rentabilidade. Com esse modelo são desenvolvidos sistemas pecuários robustos e bem estruturados, nos quais o pasto é reconhecido como cultura e a fazenda como uma empresa que busca otimizar o uso da terra e dos seus recursos de produção, para garantir maior estabilidade financeira e maior capacidade competitiva com outras atividades.
Referências
NASCIMENTO, H. L. B. DO, FREITAS NETO, I. L. DE, GUIMARÃES, K. C. et al.. Flexibilização do manejo do capim-mombaça para maior assertividade e otimização do pastejo. In: NUÑEZ, A. J. C., FURTINI NETO, A. E., LIMA, D. T. et al.. Anuário de Pesquisas ITC Pecuária – Resultados 2019-2020, v. 3, p. 124-131, 2020. 10. Ed. – Rio Verde, GO: Instituto de Ciência e Tecnologia COMIGO, 2020. 156 p.: il
Agradecimentos
Aos cooperados Kaiko Santos e Maria Eugênia Cancella
À unidade da COMIGO de Santa Helena de Goiás – GO
Fonte: https://comigo.coop.br/noticias/info/214/1/intensificacao-de-pastagens-gera-maior-lucratividade