Não devemos ter medo da medicina da longevidade

Objetivo da gerociência é aumentar a expectativa de vida saudável das pessoas

Vou dar um exemplo de fácil compreensão porque todos acompanhamos com interesse o noticiário sobre a Covid-19 e, por isso, sabemos que nosso sistema imunológico vai se deteriorando à medida que envelhecemos. Trata-se da imunossenescência, que torna a resposta imune mais fraca, aquém das necessidades de fazer frente ao vírus. Mas, e se pudéssemos intervir e reverter a situação? Imagino que ninguém seja contra! Esse é o objetivo da medicina da longevidade, de acordo com a médica Evelyne Bischof, que já trabalhou nas universidades de Basel e Zurique, na Suíça, e agora leciona na Universidade de Xangai, na China: “estamos diante de uma nova área de estudo e atuação. O propósito da medicina da longevidade é aumentar a expectativa de vida saudável, com a utilização maciça de dados, tecnologia e inteligência artificial”.

A médica Evelyne Bischof, professora da Universidade de Xangai, na China — Foto: Divulgação

Ela foi uma das palestrantes do oitavo encontro do ARDD (Aging Research & Drug Discovery), tema da coluna de quinta-feira, por isso decidi aprofundar a discussão sobre um assunto polêmico: os motivos pelos quais cientistas de primeiríssimo time defendem que a velhice seja encarada como um quadro a ser combatido. Para a doutora Bischof, cuja aula pode ser conferida nesse link, estamos no limiar de grandes mudanças: “a medicina atual encara o envelhecimento como uma condição fisiológica que não requer intervenção, na qual se atacam apenas as manifestações de patologias relacionadas à idade. A medicina do futuro vê o envelhecimento como uma condição que demanda tratamento, na qual o foco é a prevenção dos fatores de risco associados à velhice. É proativa, individualizada e de precisão”.

É importante deixar claro que esses pesquisadores não têm nada contra os idosos, muito pelo contrário – querem garantir que todos vivam com qualidade de vida até o fim, mas utilizando a ciência para prevenir, reverter e eliminar os problemas de saúde relacionados à idade. A médica afirma que a gerociência será capaz de, no futuro, detectar o risco de desenvolver uma doença e ser capaz de mitigar ou eliminar essa possibilidade. “Conforme envelhecemos, somos todos pacientes, mas teremos a chance de não chegar a sofrer de uma enfermidade porque agiremos a tempo. O estudo da medicina terá que ser revisto para que os futuros médicos incorporem essas habilidades”, enfatizou.

Joan Mannick, diretora de pesquisa e desenvolvimento da Life Biosciences — Foto: Divulgação

O arsenal inclui terapia gênica e drogas como senolíticos, inibidores de mTOR e metformina, entre outros. A médica Joan Mannick, diretora de pesquisa e desenvolvimento da Life Biosciences, ratificou essa visão: “nossa biologia sofre alterações com o passar do tempo, o que torna o envelhecimento um fator de risco modificável. Estamos no caminho para criar novas terapias para melhorar as funções imunológicas e reduzir as taxas de infecção que afetam os idosos”. Em sua exposição, que também pode ser conferida aqui, a doutora Mannick citou tratamentos voltados para recuperar a capacidade funcional das mitocôndrias e diminuir o estresse oxidativo; e de reprogramação epigenética, para restaurar as funções celulares. Para quem alega que a ciência de ponta só estará disponível para uma elite, devo lembrar que, quanto mais investimento houver em pesquisa e tecnologia, mais rapidamente seu alcance se ampliará, beneficiando todos.

Por: Mariza Tavares

Jornalista, mestre em comunicação pela UFRJ e professora da PUC-RIO, Mariza escreve sobre como buscar uma maturidade prazerosa e cheia de vitalidade.

Fonte: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2021/09/12/nao-devemos-ter-medo-da-medicina-da-longevidade.ghtml

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